sexta-feira, 17 de julho de 2015

Gênesis

Tudo começou em primeiro de Junho de 2015, quando eu cheguei na casa de uns amigos pra fazer sabe lá Leibniz o quê. Lá estava a sensei com as duas agulhas cheias de pontos nas mãos. Agulhas nº 3 e lã fininha, lilás. Ela fazia um sapatinho de bebê e eu achei interessante, sempre gostei desses trabalhos manuais. Eu já sabia bordar em ponto-cruz, era louco pra aprender crochê e... artesanato é tão legal!!!

No dia seguinte, eu estava fazendo alguma coisa aleatória em casa como sempre faço, e liguei a TV. Globo, nada que preste. SBT, nada que preste. Fui parar na Aparecida, o que tava passando? Vida com Arte, um programa sobre artesanato que eu acho show. Não acompanho porque detesto assistir televisão, a minha vive ligada, mas é porque silêncio me dá aflição.

Era a estreia de um quadro chamado Burda na TV, Cristina Sasaki tava ensinando como fazer um kimono de tricô, uma peça muito bonita feita com um ponto muito bonito. E então pintou a ideia na minha cabeça. E conforme a Sasaki ia ensinado o seu trabalho, a ideia ia fervilhando na minha cabeça. Quando a peça estava pronta, levantei, peguei um dinheiro e fui no centro, comprei um par de agulhas nº 4 e um novelo de lã preta da Cisne, da linha D'Primeira e fui pra casa da menina. Naquela tarde aprendi a por os pontos na agulha e passei toda uma madrugada praticando o ponto meia. No dia seguinte foi a vez do ponto tricô, o dia e a noite praticando o ponto constantemente, sem parar, e finalmente, estavam dominados.

Pronto, o que era necessário pra tricotar eu já tinha, agora era só meter o aço!

A primeira peça que fiz em tricô foi um gorro. Muito simples, dois pontos meia, dois pontos tricô e repetia isso até o fim da carreira. A simplicidade acabou quando tive que colocar os pontos na agulha. A receita original usava linha e eu estava usando lã, além de uma agulha dois tamanhos menor que a original (a agulha da receita era 5 e eu estava usando 4). Tive que adaptar. Na receita eram 52 pontos, eu tive que usar 80. Minha memória é péssima, eu esqueço coisas em fração de segundos, portanto, a cada ponto colocado na agulha eu tinha que contar os pontos de novo pra saber quantos tinha, imagina o sacrifício? Agora eu os organizo em blocos, de dez em dez eu coloco alguma coisa pra marcar e eu não precisar ficar contando - tenho usado clipes de papel, mas se a agulha for muito grossa, fica bem esquisito pra tricotar a primeira carreira com os clipes na frente O,o.

Comecei o trabalho. Carreira vai, carreira vem, carreira vai, carreira vem, a peça foi ganhando comprimento e eu ia ficando cada vez mais abestalhado - eu fico MUITO FELIZ por qualquer motivo que seja - com o trabalho que ia aparecendo até que POTOF! Um ponto escapa da agulha.

Sim, um ponto escapa da agulha.Você está lá, depois de algumas horas de trabalho e um ponto escapa da agulha. Como você ainda não saca dos paranauê, você fica... murchinho. Se um parente seu tivesse morrido seria menos doloroso. É com pesar que você tira as agulhas dos pontos, toma a peça numa das mãos e com a outra puxa o fio pra desfazer o trabalho. Enquanto isso, toca na sua cabeça Love By Grace e você se sente a própria Dieckman enquanto seu trabalho se esvai...

Oitenta pontos de volta na agulha, você reinicia o trabalho novamente com muita alegria. Dois pontos meia, dois pontos tricô, dois pontos meia, dois pontos tricô e a sensação de que tem algo errado. Mas enfim, você relaxa, dissipa, é calmante, você não pensa no que não deve e fica naquilo, dois pontos meia, dois pon... PUTA QUE PARIU CARALHO VAI TOMAR NO MEIO DO TEU CU MIZERA VAI PRA CASA DO CARALHO DISGRAÇAAAAAAA

Sim, um ponto escapou de novo. Mesmo que você esteja trabalhando bem lentamente pelo fato de ser iniciante, um ponto escapou, de novo. Você olha pro céu e as luzes se apagaram. O seu mundo está em pedaços, a vontade que dá é correr pra cozinha e cortar os pulsos T,T. Que lei do cão é essa? Que mundo é esse em que os pontos não podem ficar na agulha? O que eles fizeram contra essa divindade nefanda que os arranca de suas agulhas tão impiedosamente?

Oitenta pontos na agulha, nenhum vai escapar! Nem que eu tenha que grudá-los com cola superbone nas agulhas U,u. E nenhum ponto escapa de fato, o trabalho vai de vento em poupa! Podia estar maior, mais perto do fim e você podia não estar com essa estranha sensação a respeito da peça. Ela parece tão plana... O ponto barra forma relevos na peça, sulcos verticais onde ficam os pontos tricô. A minha peça não tinha isso. Fui no YouToba ver o que estava acontecendo. E descobri. Lágrimas: não me foi informado que, olhando pelo avesso, os pontos se invertem. O ponto meia vira ponto tricô e vice-versa. One more time. Again and again. Eu fazia um ponto meia no avesso e no direito. Foi de chorar. Puta merda, dessa vez eu fiquei com vontade de desistir. Parecia que alguma coisa estava conspirando pra eu não tricotar. Mas tricô é tão legal!!! Eu posso tricotar coisas pra mim em vez de comprá-las e sai muito mais em conta...

Pus decididamente outros oitenta pontos na agulha. E dessa vez foi!!! Não escapou nenhum ponto, o formato do ponto barra estava aparecendo e eu fiquei exultante! Se colocava um pé do lado de fora, levava o tricô junto, era ótimo, muito ótimo de mais!!!

Terminei a primeira parte do gorro, e lá vieram as reduções. Deu um trabalho... Eu deveria ter folgado os pontos um pouco mais na última carreira antes da redução, para não ficarem apertados, porque ia precisar pegar dois pontos juntos de cada vez. Sofri. Chorei - sqn. Terminado o trabalho de tecer, veio o de costurar o gorro. E quem disse que eu tinha a agulha adequada? Consegui com uma costureira. Uma agulha de fundo bem grosso pra poder colocar a lã nele. E tome-lhe costura. Tava ficando tão feinha a costura - primeira vez que eu fazia isso, né? Mas eu tava tão feliz, que FODA-SE, tava lindo!!! No fim da costura, um lado da peça tava maior que o outro. Comecei a pular mais pontos de um lado do que do outro pra ficar igual. Igual ficou. Eu olhei pra aquela coisa preta e quente e elástica e fofa... EU FIZ UM GORRO DE TRICÔ!!! Tirei foto, pulei pela casa, corri, gritei, dancei, eu ri taaaaaaaaaaanto! Parecia um leso no mei da casa por causa de um gorro de tricô. Um fucking gorro de tricô. <3.

O gorro ia ser dado de presente a um amigo, então, depois de pimpolhar um monte com o gorro, lavá-lo-fui. Sabãozim, esfraga um poquim bem de leve, amaciante bem poquim e põe pra secar. :)

Um dia.

Dois dias.

Três dias.

Moço, o Sr. num vai secar nunca não?

Não ele não ia. Lá em casa não corre vento, não bate sol, na sombra nem cola seca. Pus o gorro atrás da geladeira - não faça isso em casa, estraga a geladeira, vi no site de uma marca de geladeira. Ele não secou. Gorrinho, cê tá frescando com a minha cara, num tá? Tá, sim! Fui pro secador, o infeliz não secou!!!. Que gorro do capiroto!!!

Foda-se. Entreguei o gorro do mesmo jeito. Ficou tão lindo meu gorro *3333333333*